Bom dia internet, tempo fechado, aquele céu cinza e muita chuva não!? Éh, vamos falar de coisa boa. Sempre tem aquele momento em que a pessoa está fazendo nada da vida, e fica assistindo vídeos aleatórios no Youtube, No meu caso vira um loop com trailers na lista de recomendações e por algum motive me neguei a escolher um título que apareceu repetidamente ali. Na quinta vez que aquela miniatura foi exibida veio o pensamento, "vai que é um filme bom, vamos ver do que é", e depois disto foi só alegria?
Sim, não? Lucifer não é um trailer de filme e sim de uma série para Tv há ser publicada pelo canal Fox e desenvolvida por Tom Kapinos (Californication), com lançamento programado para 2016, mas já com o episódio piloto. O enredo gira em torno de quem? Lucifer (dãh) Estrela da Manhã. Personagem desenvolvido por Neil Gaiman para os quadrinhos Sandman. Apareceu pela primeira vez na edição The Sandman #4 (abril, 1989) e posteriormente ganhando uma série derivada própria precedida por The Sandman Present: Lucifer (miniseries).
A série de Tv vai seguir o conceito apresentado na história Estação das Brumas (Season of Mists – The Sandman #21-28, 1990-1991), em que Estrela da Manhã se cansa da reclusão no reino abissal, expulsando todos os ocupantes, abandonando seu posto, trancando o inferno e habita o reino mortal por deleite próprio.
"Your return to the underworld has been requested."
Coisas boas. Pessoas não familiarizadas com o personagem desenvolvido por Gaiman têm muita coisa boa para ver, só por sair do inferno vale o conceito da série. Mas, vamos além. Caso, por qualquer motivo, você tenha uma imagem mental de que o diabo é a personificação do mal e nenhum ato altruísta poderia surgir deste, ainda bem que do chão sua cara não passa. "Poxa um diabo bom?", não, só fazendo algo mais interessante que torturar almas pela eternidade. Em Sandman mesmo é descrito que são os pecadores que flagelam-se pelas perversões cometidas em vida.
"Thank you, but ... lately, I`ve been doing a fair amount of thinking. Now, do you think that I'm the devil because I'm inherently evil or just because dear old Dad decided I was?" Lucifer tem uma personificação humanizada, ou quase isso. Simpático, amigável e interativo, porém, ainda distante, como se ainda não conseguisse compreender por completo os pensamentos e atitudes das pessoas. Esta distância é muito sutil, sorrindo (até que demasiadamente) em vários momentos como se apreciasse tudo a sua volta, algo que pende entre o sarcasmo muito bem usados nas cenas e a cara de idiota que pode ser resultado de um deslize de atuação ocasional. Com alguns poréns, ele não pode ser tocado, é um ser de poder muito maior que os mortais, pouco pode ser feito para impedi-lo de estar calmo e no controle da situação, transformando sua estadia na Terra num passatempo divertido.
Se pouca coisa pode atingir Lucifer ele é o super-herói de sua série. Não, quer dizer ele realmente não morre, é a prova de bala e seja lá o que mais podem jogar sobre o sujeito, mas, ele tem mais personalidade aqui, ou seja, alguma coisa naquele coração. Demonstração de afeto e caso com os coadjuvantes constroem essa personalidade enriquecida e cheia de sentimento. Ele está preocupado com pessoas que lhe são queridas, tem gosto por estilos de música, fica com raiva do assassino apresentado no início e responde agressivamente quando rapper Too Vile não responde o que quer e ofende sua amiga morta. É aqui o tendão de Aquiles do personagem. Quando conversa com Amenadiel sobre Deus, ambos referem-se a ele como pai, num tom que leva a crer que existe uma relação de família, como pai e filho mesmo, o revoltado que saiu de casa (Oh Inferno, que casa!) e largou suas responsabilidades. Lucifer responde o anjo com uma pergunta incrível que constrói esse universo ficcional, ele é o diabo por ser inerentemente maligno ou porque Deus assim escolheu?
O cenário é rico em detalhes, a boate escura com fregueses se divertindo, Maze (Mazikeen) a atendente de bar demônio (que tem o visual bem melhor nos quadrinhos), a escola com crianças correndo para todos os lados, iluminação boa e criando o contraste de situações. Sim, nem tudo é filmado perfeitamente, mas acredito que está muito bem, principalmente nas cenas de ambiente fechado e no assassinato/acidente de carro.
"Oh, right. Okay. Let me just, oh... check my calendar. Yeah, here it is. Uh... the "7th of never" through to the "15th of ain't gonna happen."
Coisas ruins. A aparência e um pouco da apresentação do personagem são levemente juvenil, jovem adulto, sorriso demais, barba de rapaz que está começando a virar gente. Isso apresenta algo como falta de maturidade. Talvez, só talvez, uma pitada de seriedade viria bem. Algo para deixar com alguns anos a mais, não como um velho carrancudo de cinquenta anos, mas sim um cara que acredita saber o que quer e parecer que domina seu chão, o que não impede de alguém aparecer e lhe puxar o tapete.
Algo que ficou repetitivo, "diga-me seus pensamentos mais secretos e obscuros", putz, virou chamada para super-poder, muitas cenas com a mesma frase com pequenas alterações, o indivíduo já disse que faz isso com as pessoas no começo, não precisa dizer a frase toda vez que ele quer um segredo sujo, ninguém esqueceu isso em menos de vinte minutos. Poderia usar um recurso diferente e menos gritante para demonstrar que ele está usando de seu dom especial que induz as pessoas a lhe contar coisas. Isso vai também para a última aqui. Quando a detetive Chloe e Lucifer interrogam a terapeuta ele diz que a Dr Martin tem a mente mais complexa, dificultando sua chance para que ele possa dobrá-la à dizer seus segredos, e ao invés de acontecer um dialogo prolongado com reviravoltas e/ou trapaças diplomáticas ele fala algumas bobeiras, ela ri como uma adolescente no namoro juvenil e fala o que ele quer como se tivesse sido bom para ela. Caramba a cena com o policial confessando que ligava a sirene só pra correr a vontade por que ele podia tava melhor que isso.
No final, não, eu ainda deixei os últimos minutos do piloto para assistir depois, mas, fiquei muito satisfeito com o que foi apresentado até agora. Não vou comparar a série de Tv com o personagem de Sandman por alguns motivos. Não terminei de ler Sandman (heresia eu sei), e não estou muito entusiasmado para ler nada além de Sandman apresenta: Lúcifer - O diabo a porta. Existem muitas coisas boas no episódio e ele poderia funcionar muito bem sem se preocupar com o material original. Já surgiram muitas adaptações ruins de outras revistas, que prefiro não listar para deixar claro que não desmereço a opinião ou gosto daquele que aceitaram o material, quando poderia surgir outra adaptação boa de um história bem escrita.
Você gostou do que leu, discorda do que está aqui ou quer conhecer este trabalho. Leia The Sandman, assista Lucifer ou só deixe um comentário e até outro dia.
"–What's your name?
–Lucifer.
–Like the devil?
–Exactly!"
